A Solidão da Liberdade

novembro 21, 2007

E um dia de tão livre
desejarás a morte
para iludir o não-pertencer
e na suprema arrogância do não-querer
ouvirás o silvo distante do trem do adeus
ecoando gestos de ternura omitidos
no quarto de despejo das ausências
e de desejo se gretará a carne
à espera das chuvas de antanho
nos ocos sem fundo do não-dito
e como quem dobra os sinos
dobrarás as asas
de seda e violência
tal mortalha usada
voltando ao baú das ilusões mutiladas
e ainda estremecido pelo rufar do furor ferido de existir
fragor
ardor antes do bolor
colocarás a lápide do mutismo
sobre o estrebuchar da existência
já cacos de aspirações
girando no sideral da incompletude
folhas de outono sob o mistral da finitude
as lâminas do silêncio
ungindo as fissuras da alma
recolhida como feto entre deuses destronados
no deserto do verbo
exílio no tempo
na desolação de seu próprio infinito
alma desterrada
sem destino
sem a luz do sangue
sem redenção
sedenta da prisão do amor
do amor não tido
do amor não sido
do amor não exaurido
do amor não vivido

R.Roldan-Roldan 13-04-06

SOLIDÃO

novembro 21, 2007

 

Solidão
incisivos cravados na fome de ser amado
sorriso aguado e olhos de peru degolado
shador branco
e unhas negras de terra cavada
para a fossa dos mal-amados
lábios vermelhos de sangue sugado
puta sacana que me engana
nas miragens do deserto do amor
inútil clamor de virtual ternura

 

Solidão
carente de imaginação
ensaiando farsas periódicas
de sonhos erigidos com os tijolos do querer
tolos milagres da paixão em noites de exaustão
no lusco-fusco do quero-não-quero
das relações voltadas para o leito light
do não compromisso
manipulando a fragilidade do animal apaixonado
e transformando o desejo em pequenas transgressões
com gosto ilusório de vida

 

Solidão
tetas e bunda de silicone
boceta portátil ou pinto de borracha
e sentimentos de PVC
fodendo sem deixar foder aqueles que de ti fogem
em busca de uma pobre foda
foda virtual de patético Peter Pan maduro
travestida de amor
estética chula e gestos bastardos
grotesca Soledade de olhos inchados de insônia
bafo de jacaré empachado
e lassidão amanhecida de bêbado mijado

 

Solidão
cocaína crack maconha fumo álcool
e noites encharcadas de nadas cintilando no vazio
o amor entre pele e cueca
num sonho daliano
de punhetas espremidas pelos filmes pornôs
derramadas em virtuais crateras lunares
de ausência e mutismo
nos dédalos do não-ser
corpo tocado por outro corpo
olhos que não refletem o mar
de amar do outro
mal-amado

 

Solidão
asas amputas
vôo suspenso
sonho castrado
vastidão extirpada
Solitude cunhada nos limites
flutuando nos estilhaços da fragmentação
tão indolente que não consegue ser uma
em permanente apenas estar
sem ser da origem ao destino
do equilíbrio ao extremo
um ser
de amém e revolta
entre o silêncio e o estrondo
de viver